7 de outubro de 2025

As fontes de Teresópolis e a pergunta de um milhão de reais: "Pai, pode beber?"

Olha, tem uma luz diferente em Teresópolis, uma coisa que bate na Serra dos Orgãos e parece que deixa tudo mais limpo, mais puro. E foi num dia desses, passeando sem rumo, que meus filhos gêmeos saíram correndo na minha frente. Sabe o que chamou a atenção deles? O barulhinho de água caindo sem parar de uma bica de pedra, uma daquelas fontes que a gente vê por toda a cidade.

Eles chegaram lá, fizeram uma conchinha com as mãos, e com os olhos brilhando, viraram pra mim e soltaram a pergunta que todo pai e mãe que mora ou passeia por aqui já se fez: "A gente pode beber dessa água?".

Na hora, bateu aquele dilema. De um lado, a vontade de falar "claro!", de deixar eles terem essa experiência super autêntica da serra, de beber água direto da fonte, uma coisa que parece conectar a gente com a natureza. Do outro lado, o alarme de pai apitando, aquela vozinha que diz pra tomar cuidado com o que a gente não vê. A resposta não podia ser um "sim" no impulso, nem um "não" cheio de medo. Precisava ser uma resposta de verdade.

Então, eu fui atrás. Mergulhei nessa história pra descobrir qual é a real das fontes de Teresópolis. E o que eu descobri é que a gente pode, sim, curtir essa tradição, mas com conhecimento. É sobre saber onde pisa (ou melhor, onde bebe).

Fonte Taumaturgo: constantemente imprópria


As fontes que contam histórias: umas de cura, outras nem tanto

Primeiro, a gente precisa entender que essas fontes são mais do que só um cano com água. Elas são parte da história da cidade. A Fonte Judith, lá no Alto, é quase um santuário. A lenda diz que a água de lá curou a tal da Judith, filha do antigo dono das terras. Por causa disso, todo mundo tem um carinho especial por ela e, na maioria das vezes, os testes da prefeitura dizem que a água dela tá limpa. O perigo? A gente se apega tanto na história de cura que acha que a água é sempre pura, e esquece de checar.

Do outro lado da moeda, tem a Fonte Amélia, também no Alto. A história dela é bonita, uma homenagem a uma senhora portuguesa que lavava roupa ali. Mas hoje, a coitada tá meio abandonada. Mesmo depois de uma reforma, o lugar vive pichado, sujo, e até roubaram as bicas de leão que tinha lá. E adivinha? Quase sempre a água dela tá na lista das impróprias pra consumo. É quase como se o abandono do lado de fora mostrasse o perigo do lado de dentro.

A real oficial: o que os laudos da prefeitura dizem

Deixando as histórias de lado e indo pro que interessa: a ciência. A Secretaria de Saúde de Teresópolis faz um trabalho sério, o tal do Programa Vigiágua. Eles coletam água de umas 13 fontes toda hora, de 15 em 15 dias ou todo mês, pra ver se tem bactéria perigosa, tipo a Escherichia coli, que é um nome chique pra contaminação por cocô. Eca, eu sei, mas é isso. A presença dela é sinal de que a água pode dar uma baita dor de barriga ou coisa pior.

E aqui vem a verdade mais importante que eu descobri: a qualidade da água muda o tempo todo. Uma fonte que tá liberada hoje, pode estar contaminada no mês que vem. A própria prefeitura avisa que uma chuva forte, uma obra por perto ou até lixo jogado no lugar errado pode estragar a água.

Ou seja, aquele laudo de "água potável" é só uma foto daquele momento exato. Confiar num laudo antigo é jogar com a sorte.

Pra você ter uma ideia, dá uma olhada nessa tabela que eu montei com base nos relatórios de vários anos:

FonteLocalizaçãoStatus (Dez/2024)Status (Ago/2024)Status (Dez/2023)Status (Dez/2018)
AméliaAltoImprópriaImprópriaImprópriaPrópria
BrahmaVárzeaImprópriaImprópriaImprópriaPrópria
JudithAltoPrópriaPrópriaPrópriaPrópria
TaumaturgoTaumaturgoImprópriaImprópriaImprópriaImprópria
Santa ÂngelaVale do ParaísoPrópriaPrópriaPrópriaPrópria
TijucaTijucaImprópriaImprópriaImprópriaN/A
Granja GuaraniGranja GuaraniImprópriaN/AImprópriaPrópria
7 TanquesRosárioImprópriaPrópriaPrópriaPrópria

Viu só? Fontes como a Brahma e a Granja Guarani são uma verdadeira roleta-russa. E tem um detalhe matador: em TODAS as divulgações, mesmo nas que têm fontes liberadas, a prefeitura recomenda: "sempre fervam ou filtrem e clorem a água antes de ser consumida". Se eles que testam estão falando isso, quem sou eu pra duvidar?

O manual de sobrevivência da família na fonte

Beleza, então a gente desiste? Joga fora os galões? Claro que não! A gente só precisa ser mais esperto. É possível manter a tradição de pegar água na fonte e garantir a segurança da família. O segredo é criar um ritual.

A Regra de Ouro: TRATE TODA E QUALQUER ÁGUA.

Não importa se é da Fonte Judith, se o vizinho disse que bebe há 30 anos e nunca deu nada. A regra é clara: pegou água na fonte, tem que tratar em casa. É moleza:

  1. Filtre: Chegando em casa, passe a água num filtro. Pode ser de barro, de papel, o que você tiver. Isso tira a sujeirinha visível.

  2. Pingue o Cloro: Depois de filtrar, a mágica acontece. Pingue duas gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% (água sanitária, mas aquela sem cheiro e sem corante, tá?) para cada 1 litro de água.

  3. Espere: Chacoalhe o galão e deixe a água descansar por pelo menos 30 minutos. Esse tempinho é o suficiente pro cloro matar os bichos ruins.

Pronto. Simples assim.

Pra transformar isso num hábito com as crianças, a gente criou umas regrinhas aqui em casa:

  • "Olhar, cheirar, mas não beber na fonte": Eles já sabem. A gente curte o passeio, molha a mão, mas a regra é que a "água da montanha" precisa de um "preparo mágico" em casa.

  • O "Kit Fonte": Quando a gente vai passear, já leva uma bolsinha com as garrafas limpinhas pra encher.

  • Seja o exemplo: As crianças veem a gente fazendo o processo todo direitinho e entendem que cuidar da saúde é um jeito de mostrar amor.

Então, a resposta final...

Hoje, quando meus filhos perguntam "Pode beber?", eu já tenho a resposta na ponta da língua.

"Sim, podemos! E agora, vamos pra casa que eu vou te mostrar como a gente prepara a nossa água especial da montanha pra ela ficar perfeita pra gente beber."

No fim das contas, pesquisar sobre isso não estragou a magia das fontes pra mim. Pelo contrário. Agora eu sinto que posso curtir essa tradição de um jeito muito mais inteligente e seguro, e é isso que eu quero passar pra eles. A gente continua amando nossas fontes, contando as histórias e enchendo nossos galões, mas com a tranquilidade de quem sabe o que está fazendo. E isso, meu amigo, não tem preço.

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